Por Luiz de França.
Edição: José Eduardo Costa.
Revista Você S/A, edição 167, maio 2012, p 38-40.
Grupo 07:
André Patriota
Maria Patrícia
Renata Fernandes
Recife,
a capital pernambucana, emprega atualmente 5.000 profissionais em cerca de 300
empresas de tecnologia da informação criadas por cérebros locais. A cidade
nordestina foi eleita recentemente a quarta metrópole mais criativa do país
pela Federação do Comércio de São Paulo. A semente para a mudança da economia
local teve origem na cabeça de três professores: Silvio Meira, Fábio Silva e
Ismar Kaufman. Eles fundaram, em 1996, um centro privado de inovação para a
criação de produtos, serviços e empresas. Esse local é o Centro de Estudos e
Sistemas Avançados do Recife, mais conhecido como Cesar. Desde então, o mercado
de TI nunca mais foi o mesmo. De 1996 até hoje, foram criadas 31 companhias e
mais de 45 negócios gerados por essa incubadora de tecnologia que emprega,
desde 2006, uma gestão de investimento profissional. A excelência do
conhecimento gerado pelos engenheiros, cientistas da computação, designers e
demais trabalhadores do Cesar já foi reconhecida com dois importantes prêmios
de melhor instituição de inovação do Brasil, em 2006 e 2011, concedidos pela
Finep, a financiadora de estudos e projetos do Ministério da Ciência e
Tecnologia.
O Cesar está diretamente ligado à
idealização e à implantação em 2000 do Porto Digital, primeiro parque
tecnológico de Recife, que mudou de vez a cena do empreendedorismo
pernambucano. Em 2010, o Porto faturou 1 bilhão de reais com suas 200 empresas.
A próxima colaboração do Cesar para o setor local deverá ser anunciada em
breve. Trata-se de uma aceleradora de empresas em parceria com o governo do
estado para apoiar startups, companhias em fase inicial de operação, com gestão
profissional.
De visão crítica bem apurada sobre a
realidade brasileira, Silvio Meira acredita que o país precisa urgentemente
reduzir o custo de produção para se tornar mais competitivo globalmente e
internacionalizar sua mão de obra, se quiser virar o tabuleiro internacional a
seu favor. “Trabalhar do Brasil competindo mundialmente. É isso o que fazemos
aqui. No nosso tipo de negócio, o lugar não é mais o eixo Rio-São Paulo, é o
mundo.” Os motivos são óbvios. O mercado de TI brasileiro representa apenas 2%
do share global, avaliado em mais de 500 bilhões de dólares. Portanto, é lá
fora que estão as oportunidades.
Quem caminha pelos corredores do Cesar
consegue ter essa noção de internacionalização através dos nomes de algumas
empresas globais impressos nas baias e nas salas. A sede do centro de
tecnologia fica em um antigo casarão reformado do início do século 20, que já
foi um armazém de secos e molhados, situado no bairro do Recife Antigo, uma
região portuária no passado, que continua em lento processo de revitalização e
reocupação. Quase tudo o que se vê lá dentro está sob contrato de sigilo. São
projetos estratégicos de lançamentos mundiais para marcas como Motorola,
Samsung, HP, Siemens, Dell, IBM, entre outros clientes, que incluem brasileiras
como Positivo Informática, Oi, Embraer, Troller, Vivo e Banco Central.
São pesquisas como a redefinição de
interface de uma televisão, a transposição de um sistema de arquivos de
centenas de gigabytes de banco de dados e o sistema inovador de computação em
nuvem recém-vendido diretamente para a HP, nos Estados Unidos. “Instituições de
inovação como a nossa trabalham em uma espécie de penumbra. Não tem um produto
do Cesar na praça, mas certamente tem muita gente em vários países consumindo
coisas que foram desenvolvidas aqui”, diz Silvio, de sua sala coberta de
recortes com frases de impacto, como “Seja ousado, inovador, polêmico. Nada
mais”.
Dos 500 profissionais que trabalham
na sede e nas filiais, em Curitiba e Sorocaba, 100 são mestres ou doutores. Em
paralelo às linhas de pesquisa, o Cesar tem atualmente duas empresas que estão
sendo incubadas e uma participação societária em quatro que já estão em operação.
Depois que elas saem dali, essa participação é vendida. “Acredito que daqui a
três anos essas quatro empresas do portfólio vão atingir a maturidade que
esperamos para sairmos”, afirma Guilherme Cavalcanti, presidente da CesarPar,
holding que entra como sócia desses empreendimentos nos moldes dos fundos de
private equity. “Este ano estamos abrindo para ideias que venham de fora do
Cesar e nas quais a gente considere que vale a pena investir”. Depois de 24
meses incubadas, as empresas normalmente migram para o Porto Digital,
instituição parceira do centro.
Marília Lima, de 36 anos, deverá
alçar esse voo em 21 meses. Ela é presidente da SiliconReef, pequena companhia
cuja especialidade é a criação de microchip para aumentar a eficiência de
painéis solares de pequeno porte. Com os recursos que recebeu de um fundo de
investimento que financia empresas emergentes inovadoras com elevado potencial
de retorno, Marília pretende dar início à produção e à comercialização dos
chips. O foco é o mercado externo. “Os Estados Unidos são um grande consumidor
dessa tecnologia, mas é a Ásia que vai fazer todos os acessórios para os quais
estou projetando os microchips”, conta. Além de abrir sede no Porto Digital,
ela também pensa em montar uma filial na Colômbia, por formar muitos
engenheiros para processo de circuito integrado. A exemplo da SiliconReef, há
outras empresas do Porto Digital que estão dando o que falar. A história do
polo de tecnologia de Recife é um exemplo de que o investimento em pesquisa e
desenvolvimento pode gerar bons empregos e inovação. É uma idéia que deve ser
copiada.
DESIGNER
DE CHIP
Marília Lima,
de 36 anos, é a presidente da SiliconReef, uma butique de design
especializada no desenvolvimento de circuitos integrados. Criada em 2008 na
incubadora de projetos do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife
(Cesar), a pequena empresa de Marília tem projetos ousados. Atualmente, ela
trabalha no desenvolvimento de um microchip para aumentar a eficiência de
painéis solares. Em breve, a SiliconReef deve começar a fabricar e
comercializar os chips. “Os Estados Unidos são um grande consumidor, mas é a
Ásia que vai produzir todos os acessórios para os quais estou projetando os
microchips”, diz Marília.
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O
PAI DO CESAR
Paraibano de
Taperoá, Silvio Meira, de 57 anos, se formou em engenharia eletrônica, em
1977, no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Quando retornou ao
Nordeste, adotou Recife como sua cidade. Atualmente é professor de engenharia
de software da Universidade Federal de Pernambuco e cientista-chefe do Cesar,
o qual ajudou a fundar, em 1996, ao lado de Fábio Silva, professor que vive
no Canadá, e Ismar Kaufman, empreendedor da área de gestão de ativos. Desde
1996, o Cesar deu origem a 31 empresas e mais de 45 negócios. Pelo trabalho
que faz, o centro tecnológico foi reconhecido pelo Ministério da Ciência e
Tecnologia como a melhor instituição de inovação do Brasil em 2006 e 2011.
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